domingo, 31 de janeiro de 2010

Questão de linguística

Hoje uma “empregada” é uma palavra conotada num sentido depreciativo. Aparentemente estamos a falar sobre algum subalterno, um mandatado, mas a dita “empregada”, a que se chamava muitas vezes de criada, seria alguém que ia servir para uma casa, ás vezes por impossibilidade dos pais a criarem e em troco da educação e sustento, esta prestaria vassalagem e trataria das limpezas.
A empregada seria alguém contratado para os serviços e as lides domésticas remuneradas.
Ora, hoje, não existem propriamente criadas porque já vão elas… bem criadas!! E assumem-se com a autonomia e estatuto não de serventia mas de profissionais de uma qualquer profissão..
Chamam-se assim auxiliares de limpeza, auxiliares administrativas, auxiliares de.. qualquer coisa..!!
Na minha opinião, falar de deficientes ou de doentes, continua a ser exactamente o mesmo e com o respeito que todos merecem, sendo menos capacitados fisicamente ou menos habilitados de saúde.
Hoje os doentes, depois de pacientes, passam a clientes nos hospitais, e os ditos deficientes a PMC (s), ou seja, pessoas de mobilidade condicionada.
Digo isto pois, quer juridicamente, quer pelo conceito e interpretação que a própria sociedade dá…(na tal conotação da palavra e da fonética), é importante definir o que é o quê, para legislar, e por isso melhor interpretar a lei aplicável.
Por exemplo os p.m.c., não são mais de facto, do que os deficientes (portadores de uma deficiência qualquer) talvez acrescido de outro grupo então não contemplado que são aqueles que, não tendo uma deficiência física, tem alguma dificuldade motora (velhinhos, pessoas com problemas de mobilidade, que não são de facto deficientes físicos, não tendo uma perna, ou um braço)…
Assim, a legislação actual sobre mobilidade é na realidade uma melhor ou possível interpretação do que deverá ser uma arquitectura que não crie de facto dificuldade àqueles que tem alguma dificuldade em ultrapassar barreiras que um cidadão normal tem.
Dai que é preciso o bom senso, para ao legislar entender (com legitimidade) este grupo mas não criar com o exagero, uma própria barreira á adaptação e lógica do uso do espaço…
Este é o problema da sociedade actual:
Por um lado, presa a terminologias do passado, que sofreram a legitima modernização e actualização e por isso não ser ofensiva, nem a sua substituição como o uso da palavra que lhe deu essa origem.
Por outro lado, o facto de que nos refugiamos numa aparente modernização ficando melindrados, ofendidos e até de uma forma arrogante entendemos ser ofensivo e desprestigiante a utilização de uma palavra que sempre teve a sua perfeita e legitima identificação.
Um trolha ou um doutor, pode ter a mesma carga negativa pela expressão e entoação da voz, mais do que a tradução e significado real da palavra.
O trolha é um trabalhador de respeito, que exerce funções na construção civil, rebocando, levantando paredes, assentando ladrilho, pois na realidade, o ladrilhador, o pedreiro ou o pintor, hoje resume-se não a uma especialidade dentro da construção civil, mas sim um dos muitos trabalhos que qualquer trolha desempenha. Resta saber até que ponto esta expressão ou denominação carrega em si o peso da qualidade ou a “desqualidade” dos trabalhos desempenhados.
Por sua vez, o “letrado tradicional Doutor”, como sendo o “douto” saber, a inteligência suprema de tirar um curso superior, hoje, não um dos muitos que menos dotados, representam apenas um diminutivo, para colocar antes do verdadeiro nome pessoal, esse sim dignificador da pessoa em si..
Afinal tudo isto é uma questão de linguística!...
Para o que importa, apenas uma observação…
Sejamos pelo nome e pelos valores reais que detemos, preocupemo-nos apenas não com o cumprimento estrito de uma lei mas apliquemos em primeira instancia o BOM-SENSO. e só de seguida e em caso de conflito a aplicação de regulamentos que foram criados apenas com o objecto de regular em tempo de “desregulamentos”!!
Talvez não fosse mau para todo o cidadão ler o preâmbulo da lei antes de qualquer artigo e.. já agora.. Por favor, uma lei que tenha sido redigida por doutos saberes antigos, porque ao ler as leis actuais, com atenção, percebemos que até o redactor ou o autor da lei já sofre desta iliteracia e falta de capacidade de expressão escrita.

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