sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Santa Casa da Misericordia

Hoje e como habitualmente, fui fazer a minha pequena participação num gesto de solidariedade. Todos os anos por esta altura, como não o posso fazer como arquitecto ou professor, canto!, faço o que não me custa fazer sabendo que agrada a alguns. Mas de uma maneira espacial.

Dou por mim, de fato, numa pose que a música lírica ou litúrgica me impõe a cantar uma missa na Santa Casa, e num ápice me sinto tão pequeno e tão sujo ao relembrar os meus problemas e pedir ajuda a um qualquer Deus que durante o ano ponho em causa. As minhas dores e problemas, tão insignificantes quanto um rei com suas vestes de ouro olha para um súbito a morrer de fome e lhe nega uma esmola…


Pois é Rui!..., sem querer tornar pública a nossa conversa, a verdade é que, na esperança de que estes gestos altruístas possam chegar não só a quem nos ouve mas a um ou outro qualquer leitor, menos atento e que por acidente passe por aqui!.

Cantar numa missa, onde já não ouvia uma homilia tão pragmática e bem dirigida ao publico/(fieis ou não) presentes, olhei em volta!!…

Quantas caras alegres num dia de festa, que muitas nem sequer compreendem o significado. Crianças cegas, com deficiência e atrasos mentais!!... sim... chamemos-lhe pelos nomes…
Hoje temos tendência para chamara auxiliar a uma subalterna porque não gosta de ser chamada de secretária ou empregada, o doente passa a paciente ou até na nova nomenclatura classificada por não sei quem, a cliente!
Os cegos são invisuais, os p.m.c., são as pessoas que tem de facto deficiências motoras, e outras que não se integram nos nossos cânones, porque tem o seu mundo próprio, mas tem sentimentos!!
Que maneira horrivel de mudando os nomes, retirarmos a importancia de reflectir sobre estes problemas de integração na sociedade!
Escondemos, guardamos da sociedade, para não nos sentirmos mal quando vamos comprar as nossas “prendinhas de natal”.
Ao olhar aquelas faces babadas de alegria porque uma qualquer monitora/auxiliar/colaboradora/funcionaria (não sei qual o nome mais apropriado), leva num gesto tão simples e humano, uma bolacha á boca, aqueles ruídos apaziguados por um afagar de cabelo... Que coisa tão bonita, simples, carinhosa, altruísta e solidária, que coragem, que capacidade emocional que invejo, mas ao mesmo tempo… …que dor!
Como podemos virar a cara a estes seres humanos e preocuparmo-nos com coisas tão supérfluas, tão secundárias e esquecermos estas caras aqui ao nosso lado.
A semana passada fui a outro jantar (de solidariedade) a favor de um qualquer centro infantil. Positivo claro! mas num hotel, com um jantar magnifico, baile e convívio. Fi-lo com a mesma convicção, e senti que estava a fazer algo de bom.
Mas hoje senti de facto que uma bolacha é algo mais nobre do que um euro. Todos devíamos sentir isto uma vez por mês e o mundo seria melhor!...
Em paralelo, ouço notícias dos antecipados resultados da cimeira em Copenhaga.
O tema era a redução de gases para a atmosfera e a preocupação ambiental. Resultado: Os ricos pagam algo aos pobres para estarem calados e um qualquer documento que diz:
…”é preciso fazer algo, estamos preocupados”, sem datas nem metas para não haver compromissos…
Assim, Caro amigo, nesta modernice de escrever cartas electrónicas, tornar públicos sentimentos, sinto-me elevado porque mais humilde!
Olho para os meus filhos com saúde, com brinquedos, com casa e mesa, com a formação que consegui dar e sinto-me o rei com vestes de ouro.
Obrigado pelo convite para tão nobre causa.
Quanto á restante conversa, outro capitulo, outra profundidade de abordagem, mas será que estamos mesmo a seguir os tais ensinamentos de uma religião deturpada pela historia.
O pai natal não é vermelho, mas os nossos netos dirão que sim e assumirão isto como verdade.
Fiquemos por aqui… e a quem leia estas palavras…
Se servir de algo… Pensem um pouco mais sobre a causa e nobreza de gestos altruístas durante o ano e deixem esta época hipócrita e materialista, pois ela própria contraria a essência de quem a criou.
bom Natal a todos mas particularmente a essas pessoas mais nobres com uma ou outra deficiência porque menos capazes ou mais limitados, ou de ver ou de falar, mas certamente mais elevados do que muitos nas suas perfeitas e completas capacidades.

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